A Parábola do semeador

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Naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e se assentou à beira-mar. E grandes multidões se reuniram em volta dele, de modo que entrou num barco e se assentou. E toda a multidão estava em pé na praia. E de muitas coisas lhes falou por parábolas, dizendo:
— Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Mateus 13.1-9

O registro da Parábola do Semeador (tanto em Mateus, quanto Marcos) inicia a sequencia de uma série de parábolas ensinadas por Jesus a respeito do reino de Deus. Especificamente em Mateus temos a seguir as parábolas do joio, do grão de mostarda e do fermento, do tesouro e da pérola escondidas e por fim, a parábola da rede. Ao utilizar estas ilustrações, o mais provável é que a intenção de Jesus tenha sido a der permitir que através de paralelos com o cotidiano, seus seguidores pudessem compreender a proposta de vida do reino. É interessante perceber que Jesus começou a ensinar sobre o Reino de Deus, com uma parábola que trata sobre a importante tarefa de semear. Talvez seja correto dizer que o Reino de Deus começa com uma semente lançada.

A respeito desta parábola D. A. Carson (2009) afirma que a história contada por Jesus “é uma simples descrição dos vários destinos das sementes lançadas ao longo de um campo que possuía diferentes tipos de solo, férteis e estéreis” (CARSON, 2009, p. 1495). Porém, para compreender tal parábola, precisa-se levar em conta que a prática oriental de plantio é diferente da ocidental, pois se inicia semeando o solo que posteriormente será arado. Assim, tornava-se possível descobrir tardiamente a presença das diferentes superfícies em um mesmo campo.

Na explicação desta parábola (Mateus 13.18-23) fica claro que o objetivo de Jesus é ensinar que assim como cada terreno possui uma particularidade, existem diferentes situações na vida das pessoas que ouvem a mensagem do Reino, que farão com que a “palavra” lançada, obtenha um resultado específico. Porém a proposta desta reflexão não é focar em diferentes tipos de solo, antes, observar atentamente a conduta do semeador.

A PESSOA DO SEMEADOR
Quando Jesus explica esta parábola aos seus discípulos o objetivo é falar dos tipos de terreno, por isso, ele não deixa claro quem representa a figura do semeador (e na verdade o ensino parabólico não é uma analogia completa), porém se formos apontar alguém para assumir este papel dentro do contexto em que estava sendo ensinado, este alguém seria o próprio Jesus. Hoje, devemos nos lembrar de que à igreja foi outorgada a autoridade e a responsabilidade de ser a proclamadora do reino de Deus.

No final do evangelho escrito pelo apóstolo João (Jo 20.21), após a ressurreição de Cristo os discípulos estavam reunidos a portas trancadas (provavelmente temendo as autoridades), quando Jesus lhes apareceu e disse “Paz seja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. Ao dizer estas palavras Jesus deixou claro que a missão iniciada por Ele seria continuada pelos seus seguidores, e por isso no versículo 22 Jesus os capacitou soprando sobre eles, para que recebessem o Espírito Santo.

O que Jesus fez durante os três anos que esteve com os discípulos (e que está registrado para nós nos evangelhos) foi estabelecer um modelo capaz de guiar seus seguidores na realização da missão de semear as verdades eternas. Após a ressurreição, Jesus soprou sobre os discípulos o Espírito Santo e 50 dias depois o Espírito Santo foi derramado sobre toda a carne (vale observar que o evento registrado em Atos 2 aconteceu durante a celebração do Dia de Pentecostes que é a Festa da Colheita, dos Primeiros Frutos).

Ou seja, se antes era possível identificar Jesus como o semeador, hoje este papel deve ser assumido pela igreja de Cristo.

O SOLO A SER SEMEADO
Ao ler a parábola percebemos que há um tipo de solo que é melhor do outros, que é uma referência à pessoa que ouve a palavra e a entende. Porém, assim como o semeador desta parábola se propôs a lançar a semente independente das condições que encontraria em cada solo, nós também somos convidados a pregar a mensagem do Reino a todas as pessoas em todas as circunstâncias.

No texto em que Jesus dá orientações finais aos discípulos ele ordena que o evangelho seja pregado a toda criatura (Marcos 16.15). Em Tiago, quando o texto bíblico trata a respeito do preconceito com os pobres na sinagoga, ele nos ensina a não fazer acepção de pessoas (Tiago 2.1).

Sendo assim, não cabe a nós determinar quem será o alvo do amor de Deus. Devemos nos lembrar, que a nossa família é um terreno e que devemos semear, que os nossos amigos também são, que os colegas de trabalho/ escola também são, da mesma forma que estes, o travesti que trabalha se prostituindo também é alvo do amor de Deus, o morador de rua que não cheira bem precisa conhecer a palavra da verdade, o traficante que faz um mal tremendo à sociedade também deve conhecer o amor transformador de Deus.

Infelizmente nós temos escolhido o solo que será semeado, pois acreditamos que ao olhar superficialmente é possível reconhecer aquele que dará mais frutos. Porém, só conseguimos olhar superficialmente, quem enxerga o profundo é Deus e a missão que Ele nos deu, não foi a de selecionar os solos, mas lançar a semente.

A MISSÃO DE SEMEAR

A missão de semear a mensagem do Reino é a essência da igreja, pois a igreja de Cristo recebeu uma ordem: fazei discípulos de todas as nações (Mateus 28.19). Ou seja, este deve ser o objetivo principal da igreja, ou o único objetivo.

Diante desta afirmação talvez alguém se pergunte: mas onde fica a adoração e o culto a Deus? Quando nós cumprimos a ordem de fazer discípulos, estamos obedecendo a Deus e vivendo em adoração a Ele. Além disso, estaremos contribuindo para que mais pessoas vivam suas vidas para a Glória de Deus.

Sendo assim, ao estilo de vida da comunidade que se reúne em nome de Cristo deve ser proclamar a mensagem do Reino. Se este não for o nosso objetivo, teremos apenas um ajuntamento de pessoas. Os cultos se tornarão em meras reuniões sem sentido, que não cumprem o propósito de Deus e não o agradam.

Além disso, precisamos ter em mente que o reino de Deus não possui caráter individual (se assim fosse não precisaríamos nos reunir). Logo, a missão de fazer discípulos não foi dada individualmente a uma única pessoa, mas a todos aqueles que se reúnem em nome de Jesus. Ou seja, eu não sou capaz de semear sozinho (eu preciso de cada um de vocês, vocês precisam de mim e nós precisamos de Cristo até o fim).

Quando observamos a Parábola do Semeador sob a ótica de quem semeia e não apenas enxergando o solo semeado, chegaremos a algumas conclusões importantes. A primeira é de que nós, como igreja, precisamos assumir o papel e a responsabilidade de sermos semeadores. Em segundo lugar, entendemos que não cabe a nós determinar qual será o solo semeado, mas devemos nos propor a lançar a semente em todo o campo. Por fim, devemos compreender que a proclamação da verdade é missão da igreja de Cristo.

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